Assédio na adolescência: eu sofria mais assédio aos 14 anos do que agora que sou adulta.

Eu devia ter entre treze ou quatorze anos quando homens adultos e muito mais velhos do que eu, começaram a me olhar nas ruas, assobiar ou buzinar para mim.

Naquela idade eu não via a problemática por trás de todo aquele comportamento. Era desconfortável, claro, mas com a reincidência desses atos, ao longo do tempo passei a acreditar que fosse algo comum com que mulheres adultas e bonitas precisavam lidar, e com quatorze anos eu pensava que aquilo pudesse ser uma espécie de elogio.

Errado. Não era elogio, e eu não era uma mulher adulta, eu era uma adolescente de quatorze anos, e a minha aparência e o uniforme da escola não escondia para os homens que mexiam comigo na rua que eu era menor de idade, e mesmo assim eles o faziam. 

Primeiro assédio

Em 2015, o grupo Think Olga, levantou uma campanha nas redes sociais com a hashtag #primeiroassédio, em apoio a uma menina de doze anos que foi alvo de comentários sexuais na internet durante a sua participação em um reality show de culinária e gastronomia onde crianças e adolescentes disputavam o título de melhor chef de cozinha.

Essa participante de doze anos – quero frisar a sua idade na época – foi citada nas redes sociais em comentários anônimos e que faziam apologias sexuais ao seu corpo.

Alguns dos comentários mais grotescos no Twitter diziam:

“Se tiver consenso, é pedofilia?”
“Essa […] com quatorze anos vai virar aquelas secretárias de filme pornô”

A campanha #primeiroassédio convidava as mulheres a compartilharem quais foram as suas histórias sobre a primeira vez em que sofreram algum tipo de assédio.

Durante a campanha, mais de três mil mulheres que compartilharam as suas histórias relataram terem tido a primeira experiência de assédio ainda quando eram crianças ou adolescentes.

Os dados obtidos durante a campanha não foram coletados por via uma metodologia científica específica, e na época tão pouco era essa a intenção do grupo Think Olga, mas eles trouxeram à tona um dado interessante: a idade média do primeiro assédio é de 9,7 anos e que a maioria cerca de 65%, são cometidos por pessoas conhecidas da vítima.

Esta menina – que resguardo o nome para não a expor mais do que já foi, mas talvez você se lembre desse caso – tinha doze anos na época e a sua aparência era sim a de uma menina de doze anos, entretanto, isso não impediu que comentários recheados de pedofilia se espalhassem pela internet e principalmente pelo Twitter.

Alguns comentários que a sexualizavam diziam que ela não tinha o corpo de uma menina de doze anos, ou que ela não se parecia com uma menina dessa idade, mas toda vez que dizem que ela não se parece com uma criança, embora ela seja, isso é o mesmo que dizer que, caso ela fosse uma mulher adulta esses comentários altamente sexualizados e desrespeitosos sobre o seu corpo poderiam ser expressos na internet com naturalidade.

O primeiro assédio, o segundo assédio, o terceiro, o quarto… somos apresentadas ao assédio antes mesmo de entender o que ele significa, antes mesmo de saber o que é a malícia dos outros, e ao crescer nesse meio, sem ainda compreender exatamente o quão grave isso é, acabamos nos acostumando e internalizamos que “é assim mesmo” e que cabe a nós tolerarmos o assédio porque “sempre foi assim”.

É muito desagradável receber qualquer tipo de importunação e atenção indesejada nas ruas sendo uma mulher adulta, mas eu não comecei a receber essa atenção indesejada quando me tornei adulta, e imagino que se você for mulher, você também não. 

– Rejane Leopoldino

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